Rafael Amorim (1992) é poeta e artista visual de Padre Miguel, na Zona Oeste Carioca, interessado por letras minúsculas, indisciplinas e terrenos baldios. Autor de como tratar paisagens feridas (Ed. Garamond), matrimônio (Margem Edições) e de santíssimo (Urutau). Vive e trabalha entre o Rio de Janeiro e Salvador, é mestrando em Artes Visuais pela Universidade Federal da Bahia e graduado pela Escola de Belas Artes da Universidade Federal do Rio de Janeiro.
nada sabemos sobre bênçãos.
para nós
sempre foram poucas
as bênçãos emergindo do mar
aqui o trânsito atrasa
e a extinção da linha 392
nos afastou do brilho
no olho das nossas
mães
não fazemos o pão
por desconhecermos o tempo
sovamos bênçãos
que chegam criadas
em cativeiro para
distribuí-las
feito doce
às crianças
que ainda
somos.
carnaval 2038.
quem sabe fôssemos
mais folia se seu nome
também fosse carnaval
você me apresentaria
a bandeira de um país
estendida na grama
onde descansariam
os mastros
depois do cortejo
sem máscaras de quarta-feira
sem as cinzas do último
carro alegórico
pegando fogo
em plena
apoteose
quem sabe fôssemos
ao mesmo tempo
mestre sala&porta-bandeira
na dança sem medo
de que pudesse
amanhecer
outro dia.
Arte: Woman and Child on a River Bank, de Johan Christian Dahl.